A HISTÓRIA DE PIRITUBA
A hipótese mais plausível que parece ter inspirado o nome do bairro é a de que, no passado, havia uma grande quantidade de taboas (vegetação típica de brejo) nas áreas baixas próximas à estação. O nome "Pirituba" surgiu da combinação da palavra indígena "piri", que se refere à taboa, com o aumentativo "tuba", que significa "muito", resultando em Pirituba, que pode ser interpretado como "muita taboa". Esse nome foi escolhido para a estação da antiga São Paulo Railway, hoje conhecida como E.F.S.J.
Originalmente, a área de Pirituba era ocupada por grandes fazendas de pessoas influentes politicamente na época. Grande parte das vilas que formam o povoado de Pirituba está situada no que era a Fazenda Barreto, de propriedade do Dr. Luiz Pereira Barreto, médico e político de destaque no período.
A Fazenda Barreto
A Fazenda Barreto se estendia desde a estação até onde hoje estão localizadas as Vilas Zatt, Maria Trindade e a Estrada do Rio Verde, fazendo limite com a ferrovia e com os terrenos da Companhia Armour. A área da fazenda abrangia cerca de 80 alqueires. Outra propriedade histórica em Pirituba era a fazenda do Brigadeiro Tobias Barreto, que ficava onde hoje estão os terrenos da Companhia Armour do Brasil e, em parte, foi loteada para a construção de novas vilas, como a Chácara Inglesa, Vila Comercial e Jardim Felicidade.
Por fim, a fazenda que parece ser a mais antiga e que deu origem a diversos sítios e chácaras, e posteriormente a novas vilas, foi a Fazenda Jaraguá. Grande parte dessa fazenda ainda existe, sendo em sua maior parte pertencente ao Governo do Estado. As áreas que foram desmembradas, após a divisão em pequenos sítios, deram origem a vilas como Vila Clarice, Jardim Regina e Vila Boaçava, entre outras.
As Fazendas e o Caminho do Piqueri
No início do século XX, as fazendas da região estavam conectadas pelo chamado "Caminho do Piqueri", que ligava a Freguesia do Ó à estação de Pirituba. Esse caminho também se estendia até a Vila Pirituba e Osasco, além de conectar a estação de Pirituba à estação de Taipas (pela Estrada de Capuava). Essas vias eram usadas por carros de boi, carroças e tropas de burros e bois, que transportavam cereais e madeiras para a estação de Pirituba, ou levavam bois para o Frigorífico Armour, onde eram destinados ao abate.
O início da ocupação de Pirituba está diretamente relacionado às grandes fazendas de café que surgiram no Estado de São Paulo durante o auge do ciclo cafeeiro na segunda metade do século XIX. Acredita-se que a grande movimentação de café e a influência dos proprietários dessas fazendas na política paulista da época tenham sido fatores decisivos para que a São Paulo Railway (S.P.R.) construísse a estação de Pirituba, provavelmente na década que antecedeu o fim do século XIX.
A Chegada das Primeiras Famílias a Pirituba
Com a construção da estação, despertou o interesse de famílias portuguesas e italianas para se estabelecerem na região, formando as primeiras famílias do bairro. Exemplos disso são as famílias Andrade, Magalhães, Teixeira, Petraco, Pradela, Batista Rodrigues e Campestrini, entre outras. Esses primeiros moradores foram os alicerces da formação do atual povoado de Pirituba, e seus descendentes hoje estão amplamente espalhados e integrados na sociedade local.
As fazendas mencionadas, como a Fazenda Barreto e a do Brigadeiro Tobias Barreto, eram dedicadas principalmente ao cultivo de café. No entanto, com a mudança da produção de café para a Zona Paulista e o desgaste das terras, essas fazendas se transformaram em pastos abandonados. Posteriormente, os proprietários dividiram essas terras em pequenos sítios. Destacam-se, entre eles, o sítio dos Teixeiras e o sítio dos Campestrini, localizados na atual Chácara do Sanatório Pinel. O sítio dos Guedes deu origem à atual Vila Boaçava, situada ao lado oeste do bairro. Já a leste, tivemos a chácara da Família Agú, adquirida da Fazenda Barreto, e a chácara da Família Petraco, entre outras.
A Ocupação das Terras ao Redor de Pirituba
As terras ao sul e ao norte de Pirituba foram adquiridas pela São Paulo Railway (S.P.R.) por volta do início do século XX. Nessa área, que hoje abriga a Chácara Inglesa, a Companhia Armour do Brasil inicialmente utilizava as terras para pastagem de gado. Posteriormente, elas foram arrendadas para pequenos sítios de imigrantes japoneses e, mais tarde, usadas para o cultivo de eucaliptos, cuja madeira era destinada à alimentação das caldeiras do frigorífico.
Atualmente, as terras da Armour do Brasil ao redor da estação de Pirituba passaram por um novo estágio de ocupação, o mais recente dentro do processo de urbanização do município de São Paulo: o desmembramento em lotes para a criação de novas vilas. O desmembramento das antigas fazendas, como a Fazenda Barreto, começou por volta de 1922, após a morte do Dr. Luiz Pereira Barreto, quando a propriedade foi dividida entre seus herdeiros.
A Formação e os Empreendimentos de Pirituba
Foi nesse ano que começou a venda dos terrenos da atual Vila Pereira Barreto, que mais tarde se tornaria o núcleo principal de povoamento do bairro. Por volta de 1926, outros herdeiros do Dr. Luiz Pereira Barreto fundaram uma nova vila, também chamada de Vila Pereira Barreto, que acabou se conectando com a primeira, formando uma área praticamente indivisível nos dias de hoje.
Na mesma década, surgiram três empreendimentos que se tornaram verdadeiros marcos do bairro: a Fábrica de Tecidos, o Sanatório Pinel e a Capela São Luís Gonzaga. A Fábrica de Tecidos foi fundada por um empresário inglês, Mr. North, em um terreno adquirido da Fazenda Barreto, onde ficavam as casas dos colonos da fazenda. O Sanatório Pinel foi fundado pelo médico Dr. Pacheco e Silva, em um terreno adquirido da Companhia Armour, que inicialmente havia planejado construir uma vila naquela área.
Os terrenos do Sanatório originalmente se estendiam até o cruzamento da Estrada Velha de Campinas com a Estrada Municipal, mas foram posteriormente reduzidos ao tamanho atual, pois parte deles foi loteada pelo próprio Dr. Pacheco e Silva.
O Sanatório Pinel, a Fábrica de Tecidos e a Capela São Luís Gonzaga
O Sanatório Pinel foi fundado em 1929, com capacidade inicial para 250 leitos, e foi incorporado ao patrimônio do Governo do Estado em 1945. Um marco importante para a infraestrutura de Pirituba foi a chegada da energia elétrica, que se deve à Fábrica de Tecidos. Em 1927, a fábrica promoveu a ligação da rede elétrica vinda do Piqueri, investindo na época a quantia de 35 contos de réis. A partir dessa linha, a energia elétrica foi distribuída para todo o povoado.
Outro acontecimento significativo dessa década foi a fundação da primeira Capela de São Luiz Gonzaga, em 1923, por um grupo de famílias católicas que residiam na região. Entre os fundadores, destacaram-se os senhores Júlio Ferreira, Casemáro de Andrade, José Montesante, Manoel Magalhães, João Toledo, a família Petracco, entre outros.
A Importância de Iniciativas Religiosas e Sociais para o Desenvolvimento de Pirituba
Essa iniciativa se destaca entre as mais importantes para a formação do nosso bairro. Na época, a população brasileira era, e ainda é, em sua grande maioria, católica, devido à herança cultural dos nossos colonizadores. Nesse contexto, a construção de um templo religioso se tornou essencial, oferecendo à população um local de refúgio e conforto espiritual, especialmente nos finais de semana. A relevância dessa iniciativa cresceu à medida que o templo passou a ter uma grande influência nas atividades sociais da região. Hoje, a capela se prepara para se tornar um dos maiores e mais modernos templos religiosos entre os bairros do município de São Paulo.
Outra iniciativa significativa, embora não tenha tido tanto impacto no desenvolvimento físico e econômico do bairro, mas de grande importância para o progresso social, foi a fundação do primeiro e mais antigo clube de Pirituba. Esse clube merece uma análise separada, dada a sua relevância histórica.
Além disso, há um fato importante na década de 1920 que, embora não tenha sido diretamente relacionado à formação de Pirituba, teve grande impacto no crescimento do povoado: a passagem da Estrada Velha de Campinas pelo bairro. Esse foi um fator de progresso crucial, pois a estrada se tornou a principal rota para veículos que viajavam ao interior do estado. Com isso, facilitou o acesso a Pirituba, que antes só podia ser alcançado por meio da Freguesia do Ó.
Novos Empreendimentos e o Crescimento de Pirituba na década de 1930
Na década de 1930, surgiram novos empreendimentos importantes em Pirituba, entre os quais se destacam a fundação das atuais Vilas Comercial e Bonilha. A Vila Comercial foi iniciada em 1935, enquanto a Vila Bonilha teve seu começo no início da década de 1930. O proprietário do loteamento, senhor Pedro Bonilha, adquiriu as terras do senhor Sebastião Ribeiro em 1922.
A fundação da antiga Fábrica de Borracha foi, sem dúvida, o evento de maior importância dessa década. A fábrica gerou empregos para os habitantes do bairro e, juntamente com a Fábrica de Tecidos, contribuiu para o deslocamento de várias famílias que vinham para Pirituba em busca de trabalho. Isso acelerou o crescimento populacional da região.
Naquela época, Pirituba já começava a ganhar um novo aspecto. Era um pequeno agrupamento humano, com casas ainda esparsas, mas com um número crescente de novas construções, tanto nas vilas já organizadas quanto nas que estavam em processo de urbanização.
O Desenvolvimento de Pirituba na Década de 1930 e as Conquistas Políticas
Na década de 1930, Pirituba já começava a se desenvolver como um povoado consciente dos seus problemas, buscando soluções para resolvê-los ou, ao menos, amenizá-los. Foi nesse período que grandes conquistas políticas começaram a se concretizar. A subordinação à Freguesia do Ó, tanto do ponto de vista jurídico quanto policial, gerava dificuldades para os moradores do bairro, o que os motivou a lutar por mudanças. Em 1936, Pirituba foi oficialmente declarado o Trigésimo Segundo Subdistrito da Capital, mas ainda subordinado ao distrito da Freguesia do Ó. A partir daí, os registros de casamentos e óbitos passaram a ser feitos no cartório local.
Na mesma época, foi criada a subdelegacia do bairro. O primeiro juiz de paz foi o senhor Júlio Ferrari, e o primeiro subdelegado foi o senhor Eleutério Fiorá, substituído pelo senhor Francisco Peixoto, que permaneceu por mais tempo no cargo. Tanto o senhor Júlio Ferrari quanto o senhor Francisco Peixoto foram incansáveis defensores dos interesses do bairro, liderando diversas iniciativas sociais.
Júlio Ferrari foi também o fundador da Sociedade Humanitária, criada entre 1929 e 1930, que até hoje se dedica a atividades assistenciais na região. Já na década de 1940, embora não tenha surgido nenhum grande empreendimento sob a perspectiva socioeconômica e territorial, houve um aumento considerável da população. O bairro passou a ser mais compacto e denso, com um número crescente de novos moradores, consolidando-se como um povoado mais estruturado.
O Grande Desenvolvimento de Pirituba na Década de 1950
Foi na década de 1950 que Pirituba vivenciou um grande desenvolvimento em todos os aspectos. Novas fábricas foram inauguradas e novas vilas foram fundadas, o que resultou em um crescimento populacional e econômico significativo, duplicando ou até triplicando o tamanho do bairro. Entre os empreendimentos mais importantes, destacam-se a fundação da Fábrica de Papel Rio Verde, a Fábrica de Preparo de Algodão "Norbo", a Pianofatura Paulista, a Fábrica de Lajes Volterrana e a ampliação considerável do Lanifício Pirituba. Todos esses novos estabelecimentos, juntamente com os já existentes, trouxeram um grande progresso para a economia do bairro.
No setor educacional, o bairro passou por uma evolução significativa. De uma pequena escolinha mista de Dona Leopoldina e do Grupo Escolar Mariano de Oliveira, Pirituba viu a construção de um grande grupo escolar municipal em Vila Pereira Barreto, a criação de um ginásio estadual e a construção de vários galpões escolares para atender ao crescente número de crianças em idade escolar.
O Crescimento Espacial de Pirituba
Durante o crescimento territorial do bairro, foram criadas sete novas vilas: Vila Mirante, Vila Zatt, Vila Santo Antônio, Vila São José, Vila Maria Trindade, Chácara Inglesa e Jardim Regina. Essas vilas contribuíram significativamente para a expansão do território habitado e para o aumento populacional de Pirituba. Muitas pessoas se mudaram para a região em busca da casa própria, o que gerou um grande fluxo de trabalhadores.
Sob certos aspectos, algumas dessas vilas cresceram e acabaram atraindo a atenção que antes estava centrada nas vilas mais antigas, como a Vila Pereira Barreto e a Vila Barreto. Esse crescimento deve-se, em parte, à chegada de famílias de maior poder aquisitivo, que puderam construir casas mais modernas e estavam mais preparadas para reivindicar melhorias para a comunidade em que viviam.
O Crescimento e Progresso de Pirituba
O crescimento e o progresso de Pirituba não pararam por aí. Novos focos de desenvolvimento estão surgindo e novos empreendimentos estão sendo realizados. As condições de habitação continuam a melhorar, graças às constantes reivindicações de nossa população. Novos templos estão sendo construídos, novos loteamentos estão surgindo, e certamente trarão novos moradores para o nosso bairro. O que vemos é um crescimento em todos os aspectos.
Ao sul, temos o início do Jardim Felicidade e a venda de terrenos industriais, dois empreendimentos que certamente trarão progresso econômico e um aumento populacional para a nossa região. Ao norte e a oeste, novas vilas também estão surgindo nos terrenos que anteriormente pertenciam à Vila Armour. Como podemos observar, as terras de Pirituba passaram por todas as fases do desenvolvimento desde o primeiro contato com o ser humano.
É certo que, na época das bandeiras paulistas, várias tribos indígenas habitavam a região. Com o crescimento da cidade de São Paulo, essas terras foram adquiridas por grandes políticos da época, que estabeleceram suas fazendas de café. Com o deslocamento da produção cafeeira para o interior, as fazendas foram abandonadas e vendidas a pequenos sitiantes e à Companhia Armour. Posteriormente, surgiram as vilas, e, por fim, a região se consolidou como um denso povoado, ligando a Freguesia do Ó, passando pelo Piqueri e, futuramente, a Lapa, ao longo da Estrada Velha de Campinas.
Tudo isso aconteceu e continua acontecendo devido à força inexorável do progresso, impulsionado pela dinâmica humana.
João Ortiz da Rocha
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